domingo, 28 de junho de 2015

Praia de Ramos: história que mistura poluição e lazer

Praia de Ramos no início do século XX: construção da “Copacabana dos Subúrbios” 
A praia de Ramos faz parte da história do bairro de Ramos e de sua população. Do começo aristocrático à deterioração ambiental, decorrente da poluição por dejetos industriais e humanos, a localidade chegou ao século XXI bastante modificada. No entanto, ainda se mantém como opção de lazer para habitantes da região, do subúrbio da cidade ou da periferia, que enfrentam dificuldades para acessar outras praias fluminenses.
Por volta de 1910, a Praia de Ramos começou a ser conhecida como a “Copacabana dos Subúrbios”, numa alusão à famosa praia da Zona Sul carioca. Famílias inteiras desciam a serra de Petrópolis para passar o dia em Ramos, inclusive por indicação médica, pois suas areias eram consideradas monazíticas.
Ponto de encontro – Para a vizinhança ou moradores dos arredores, Ramos era ponto de encontro, de práticas desportivas e do imprescindível contato com o mar, tão ao gosto do carioca – mesmo sendo um “mar de baía”. Assim como ocorre hoje nas praias da zona sul do Rio, em Ramos havia redes para jogos de basquete e vôlei, amplo espaço para o futebol de areia e um iate clube para guarda e conserto de barcos de lazer ou dos praticantes do remo – o esporte de maior evidência no Rio, até a década de 1920.
A boa fama da praia de Ramos durou até o final da década de 1940, quando a construção da Avenida Brasil – com o aterramento de parte da Baía de Guanabara – e a inauguração da ponte de acesso à Ilha do Governador (1949) – a pedido da Aeronáutica, que já possuía bases de combustíveis na ilha –, provocaram grandes alterações, com sérios prejuízos para a qualidade do meio ambiente e do lazer na região.
Em meados dos anos de 1960, o governo do Estado tentou revitalizar a área, com a retirada de moradias construídas de forma desordenada, a construção de um calçadão e melhor iluminação pública.
Degradação ambiental – Mas, em pouco tempo, o lugar novamente se deteriorou, pela falta de investimentos, o abandono do poder público, a volta das ocupações irregulares – dando origem, inclusive, ao Complexo da Maré –, bem como os ininterruptos despejos de resíduos poluentes nas águas da Baía de Guanabara.
Em 1981, o balneário já apresentava o maior índice de poluição entre as praias da cidade, segundo a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA, atual Inea). A praia recebe, até hoje, o esgoto dos canais do Cunha, do Fundão e  da Penha.
Durante décadas, a degradação ambiental pouco incomodou o poder público. Até que, em abril de 2000, a sociedade civil recorreu à Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para promover um abraço simbólico à praia e reivindicar melhorias socioambientais.
Parque ambiental – Diante da manifestação pública, o então governador do Estado, Anthony Garotinho, anunciou um conjunto de obras na localidade, com a criação do Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos Roberto de Oliveira (Dicró), mais conhecido como “Piscinão de Ramos”.
Foto: Olho Verde/Moscatelli

Inaugurado em dezembro de 2001, ao custo de R$ 3 milhões, o parque consiste num lago artificial de 26mil m², revestido com uma camada de polietileno e capacidade para 30 milhões de litros de água.

O Parque Ambiental da Praia de Ramos não foi construído para se tornar uma área de proteção ambiental (APA) – cujo objetivo é preservar a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar o uso dos recursos naturais. A finalidade principal do parque era oferecer uma área de lazer para substituir a praia de Ramos, imprópria ao banho, além de valorizar os imóveis da região e atrair pessoas de outros Estados.

O projeto original apresentava equipamentos para a prática desportiva, quiosques para o comércio de alimentos e bebidas, praças, brinquedoteca e lona cultural.  O maior atrativo, porém, era a piscina pública de água salgada – o “piscinão” –, que chegou a receber 60 mil pessoas nos fins de semana de verão. Atualmente, a frequência está reduzida à metade. À exceção da piscina, os demais equipamentos de lazer estão abandonados.


Problemas locais – Pouco tempo após a inauguração, dois problemas se destacaram na área do “piscinão”. O primeiro foi a falta de segurança pública, que já existia antes mesmo do parque, localizado em região dominada por facções criminosas rivais.

O segundo problema é higiênico. O parque nasceu limpo e logo apresentou altos índices de contaminação na água e na areia. Isso ocorreu, principalmente, pela falta de educação dos frequentadores, que se mostraram indiferentes aos cuidados necessários à preservação do local e suas instalações – por exemplo, não urinar ou defecar na água da piscina artificial e impedir a presença de animais nas areias.

Apesar da garantia da Fundação Instituto das Águas do Município do Rio (Rio Águas) de que o tratamento da água da piscina ocorre diariamente e de que o lago está próprio para banho, a simples observação visual indica o contrário. Lodo e lixo dominam o local e a água tem a coloração escura, “barrenta”.


Opiniões divergentes – Morador do bairro da Penha, José, 66 anos, foi assíduo frequentador da praia de Ramos desde a infância. Em sua opinião, é a Baía de Guanabara, e não somente a praia, que precisa de limpeza.

“O que se encontra são bichos mortos e lixo”, atesta. Preocupado com o estado de degradação da água, que “pode originar doenças de pele e respiratórias”, José gostaria de frequentar novamente a praia, “se fosse limpa”.

Alheios a este cenário, milhares de banhistas – a maioria, originária de camadas socioeconômicas menos favorecidas – parecem não se importar com a sujeira evidente e continuam a lotar o lugar durante o verão.



É o caso de Mariana, 47 anos, que mora perto do “piscinão”. Apesar da poluição e do receio de contrair doenças e micoses, ela continua usufruindo dessa opção de lazer. Admite, porém, que “na década de 80 era melhor”.

Mas, entre aqueles que frequentam o local desde sua criação, há quem prefira evitar o contato com a água do lago salgado. Romeu, 28 anos, é uma dessas pessoas. Embora também resida na área do “piscinão” e frequente socialmente o local, o rapaz nunca utilizou tomou banho na praia de Ramos. “Ela não possui o tratamento adequado. Se fosse limpa, eu utilizaria”, diz.



Sem compromisso – Em janeiro de 2015, a questão da limpeza do local motivou o site de notícias UOL a procurar a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) e a organização sem fins lucrativos ONG Ecos (Espaço, Cidadania e Oportunidades Sociais), contratada para gerir os espaços esportivos da praia. Ambas se isentaram de qualquer responsabilidade sobre a decadência e más condições de higiene do “piscinão”.

Na avaliação dos integrantes do Verdant, o estado atual daquele parque ambiental reflete a forma como a preservação ambiental ainda é encarada em nosso país. Apesar da construção de um parque com excelente estrutura de lazer, não houve um projeto efetivo de educação da população sobre o uso e a proteção do espaço utilizado – uma iniciativa que, ao longo do tempo, iria contribuir para a própria despoluição das águas da Baía de Guanabara.


O processo de despoluição tão almejado passa, necessariamente, pelo compromisso global com as condições ambientais da baía. Enquanto essa consciência não for priorizada por governantes e habitantes do Rio de Janeiro, teremos promessas e nenhuma ação.

Sobre o desenvolvimento do bairro de Ramos
Conforme pesquisa realizada no SESC de Ramos, no início do século XX, um caixeiro-viajante da fabrica de tecidos Andorinhas, chamado João José Batista, fez fortuna e impulsionou a urbanização do bairro.
O empreendedor residia numa mansão onde hoje está localizado o prédio do SESC de Ramos. Ele foi responsável por diversas construções no bairro e todas traziam, na fachada, a figura de duas andorinhas esculpidas em gesso.


Bibliografia:

2 comentários:

  1. Muito bom o artigo.
    Me auxiliou a poder ver novas perspectivas para meu trabalho acadêmico!
    Se por acaso tiverem mais conteúdos que possa me ajudar sobre o piscinão ficaria muitíssimo agradecido!

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  2. Eu tenho uma grande saudade porque foi criada na praia de Ramos. Não sei se tenho algum conhecido de infância morando no local. Hoje está tudo mudado. Na minha época não tinha casa de tijolo,era barraco de madeira e o telhado era de zinco. Éramos muito pobres mas felizes. Existia a brincadeira de amarelinha,bola de gude e pulava de corda. Muita saudade.

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