sexta-feira, 3 de julho de 2015

Botos-cinza podem sumir da Baía de Guanabara até 2035

Nas últimas três décadas, a população de Sotalia guianensis, nome científico do boto-cinza, espécie de golfinho que reside na baía, sofreu uma baixa de 90%. Em 1985, eram 400. Segundo levantamento do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua), da Faculdade de Oceanografia da Uerj, atualmente 38 (sobre) vivem nas águas sujas da Guanabara — a cada segundo, 18.400 litros de esgoto doméstico sem tratamento são lançados na baía. A contaminação química e biológica, a pesca e o barulho causado pelos navios fundeados nos arredores da Ponte Rio-Niterói são as principais causas do desaparecimento dos cetáceos.




— Caso a situação não seja revertida, em 20 anos teremos uma população de raríssimos indivíduos ou não restarão mais botos-cinza. A espécie entrou, ano passado, na lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente por causa da situação crítica da baía — lamenta o oceanógrafo Alexandre Azevedo, do Maqua.
Desde 1992, equipes da Uerj monitoram os golfinhos na baía. Em 1995, os oceanógrafos passaram a utilizar a técnica de fotoidentificação. Os botos-cinza nascem com a nadadeira dorsal lisa, mas, por conta da interação com o ambiente e, principalmente, entre eles (se mordem tanto nas brigas quanto nos cortejos), ganham marcas, que viram uma espécie de impressão digital. Passaram, então, a ser chamados por números e, em casos especiais, apelidos.
— Os golfinhos da Baía de Guanabara não são passantes, eles escolheram esse lugar como residência fixa — diz o oceanógrafo José Lailson Brito, a bordo da lancha Falsa Orca. — Aquela é a Titia. Está ao lado do filhote da Guapi. Ela cuida dos filhotes de várias fêmeas.A fêmea foi carinhosamente batizada de Titia recentemente.
Desde 1999, pesquisadores acreditavam que ela era ele, pois nunca tinha engravidado. Em janeiro do ano passado, enfim, Titia deu à luz, deixando todos confusos e contentes. A festa, porém, durou pouco: o filhote morreu dois meses após o nascimento. E não foi um caso isolado.
— Mais da metade dos filhotes não chega à idade adulta. Como todo mamífero, eles nascem com imunidade baixa e ainda são alimentados com leite contaminado das mães. Os elementos contaminantes não matam diretamente os animais, mas deixam a imunidade ainda mais baixa. E os filhotes acabam afetados por doença bacteriana ou viral — explica José.


Os botos não ingerem sacos plásticos: preferem fazer do lixo um brinquedo - Custódio Coimbra / Agência O Globo

PDBG: à espera da iniciativa privada

Anunciado durante a ECO-92, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) começou a ser executado em 1994. Duas décadas depois, o programa, que atravessou sete governos, já consumiu quase R$ 3 bilhões, entre financiamento externo e dinheiro público. E está longe do fim.
— O PDBG tem um déficit de credibilidade fruto de um erro de comunicação. Prometeram coisas que não puderam entregar. É coisa de político — afirma André Corrêa, secretário estadual de Ambiente. — A primeira coisa que a Baía de Guanabara precisa é de um choque de transparência. Ela só será despoluída quando a gente sanear os 15 municípios do entorno. E para isso é necessário um investimento de R$ 12 bilhões. É uma dívida social enorme.
O secretário afirma que o estado não tem esse valor em caixa para investir no programa:
— Iniciamos um estudo para iniciar uma parceria público-privada. O cálculo é que, em dois anos, novos parceiros comecem a investir no tratamento de esgoto dos municípios da Baixada Fluminense.
A inauguração das estações de tratamento de Alegria, em 2009, Sarapuí, em 2011, e Pavuna, em 2014, foram algumas das poucas conquistas do PDBG. A não conclusão de coletores de esgoto, porém, fizeram com que as estações não funcionassem na capacidade plena. Atualmente, apenas um quarto do esgoto gerado por moradores do estado passa por tratamento. Ou seja: três quartos são lançados in natura nas águas da baía, o que contabiliza 18.400 litros por segundo.


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